sexta-feira, agosto 24, 2012

Ser ou não ser livre?

Tenho uma relação especial com a palavra "liberdade". Não é a toa que a tenho tatuada em meu corpo e em minha alma. Todo esse apreço surgiu depois de muitas reflexões e ponderações do real sentido, pelo menos para mim, dessa palavra. Acredito que deparei-me com inúmeras considerações simplistas e egoístas relacionadas ao "ser livre". E a consequência de toda essa deturpação é fatal, pois implica, precisamente, aprisionamento.

Em uma compreensão inicial, surge a perspectiva de independência. Ser livre, para muitos - a grande maioria, representa não ser submisso a outrem. Mas o que entende-se por ser independente? Ser liberal, ser autônomo? Nesse sentido: desprender-se. Durante anos, tive o (des)prazer de conviver com muitas pessoas que intitularam-se livres. Agora, vejo que essa liberdade defendida e protegida é justificada somente nessa consideração inicial.

Desenvolvendo esse pensamento, noto que essa liberdade transmuda-se em prisão, em correntes. E assim, em necessidade. Tudo que necessitamos excessivamente nos prende. O ato de desejar algo "necessário" é facilmente substituído pelo desejo de necessitar. E, irremediavelmente, essa necessidade de necessitar, torna-se, além de redundante, limitante. A liberdade vista como independência é a ponte para o egoísmo individualista. E o excesso disso? Solidão.

Contemporaneamente, há aqueles que defendem o "ser livre" no sentido de ser independente, e agem como tal. Acho coerente e justo. O que acredito que está desacertado é proteger a liberdade só quando é conveniente. Isso "soa" estranho e indigno de qualquer consideração.

A liberdade em que eu acredito vai um pouco mais além desse conceito simplista. Ela torna-se uma aliada da espontaneidade. É o agir consciente e inconsciente que é espontâneo por revelar um desprendimento de necessidade e que, ao mesmo tempo, está preparado para lidar com qualquer situação, mantendo uma coerência. Coerência com a sua essência. Ser livre nas escolhas, ser livre para mudar de opinião com responsabilidade, ser livre para manter vínculos que transbordam o bem e cortar vínculos destrutivos. Ser livre para amar, amar mais ainda e, depois, amar novamente. Ser livre para encantar-se por várias pessoas ou ser livre para apaixonar-se por uma só todos os dias (apresente-se, por favor). Ser livre para gostar da rotina e se empolgar nas mudanças. Ser livre para gargalhar, mesmo sozinho. Para dançar qualquer música sem ter platéia, ouvir qualquer som sem julgamento. Sentir-se livre, sem a obrigação de ser. Ser livre de tudo, inclusive de ser livre.

A necessidade de ter liberdade é como o nó que aperta, que prende, que limita. Aprisiona. É uma condição que ilude. Já a espontaneidade (des)prende despropositadamente e pode transformar qualquer relação pessoas-objetos-pensamentos também em uma interdependência, porém totalmente livre e sublime. Algo grandioso, sabe? Que foge da mediocridade, do morno, do comum. Que impressiona sua alma, sem aprisioná-la. Liberdade mode on.

2 comentários:

Rafael Caus disse...

Oi. Achei seu post muito interessante. Também me considero um contemplador da liberdade. Há tempos atrás, inclusive, quis ir um pouco mais a fundo e descobri que a palavra "freedom" do inglês tem sua origem numa palavra alemã que quer dizer "paz". Curioso, né? Além disso, li que esse termo surgiu depois de uma luta entre dois clãs de origem germânica, pré-cristãos. A palavra então surgiu no momento pós conflito, derivada do nome de uma deusa. Pensar que até então naquele grupo social simplesmente não existia uma palavra que descrevesse isso é muito curioso. Acho que "paz" complementa muito bem a visão que você explicitou no seu post como a que mais faz sentido pra você. A espontaneidade da paz.
Abraço

Roberta Feitosa disse...

A espontaneidade da paz. Taí, gostei!