terça-feira, maio 31, 2011

Ego

Quer saber o melhor caminho para concluir, assustadoramente, que a vida é feita de momentos despropositados? Reorganize seu computador e seus e-mails. Separe tudo, pasta por pasta, foto por foto, lugar por lugar, conversas e mais conversas. Fases e mais fases, das mais estranhas até as mais prazerosas. Muitas que você até hoje não consegue entender. Na verdade não é bem entender. É tentar reviver mentalmente. Nada se completa. Mas naquele momento, exatamente naquele instante, tudo parecia ter uma certa lógica. Mesmo que, de forma sensata, não exista explicação correta - e nem mesmo incorreta.

Deparar-me com certas fases me fez pensar no que exatamente eu senti naqueles dias. Boa pergunta. Já nem me lembro mais. Não que o passado seja insignificante. De jeito nenhum. Ou melhor, muito pelo contrário, pois o passado é o momento mais importante, depois do presente, pra construir nosso futuro. Mas uma coisa é certa, pelo menos para mim: se eu "passei" de certa fase na minha vida, foi com a intenção genuína de mudar para algo aparentemente melhor. E pensando dessa forma, me questiono com uma certa angústia no peito: depois de tantas fases - cada uma com sua peculiaridade, com um jeito de ser diferente, com companhias diversas, grupos de amizades distintos, gostos musicais variados, brincadeiras e piadinhas "de sempre" diversificadas, amores iguais e totalmente desiguais - qual delas foi a que chegou mais perto de me deixar a vontade para ser o que realmente sou?

Tenho quase certeza que eu sou aquilo que eu mais escondi ser. Talvez eu seja, em uma visão geral, todas as palavras que eu preferi calar. Exatamente a ausência. Tudo aquilo que ficou oculto. Sem explicação. Afinal, o que ficou claro, claramente, ficou claro. E redundante. E talvez tudo isso seja uma das coisas mais deslumbrantes. Aquilo que faltou. Mas, felizmente, ficou indiferente.

E se a gente tivesse que escolher apenas uma fase? Será que bastaria? Acho que não. Essa mistura louca de ações e reações, coerentes com a realidade daquele momento, é realmente responsável pelo nosso "eu". Mas em uma coisa eu acredito: em cada momento, em cada fase, de uma forma ou de outra, partes de mim foram tomadas, levadas e esquecidas - para bem longe. E o que eu sou e o que eu levo comigo são as companhias que ficaram, de graça. Ontem, hoje e sempre.

E aqueles momentos despropositados, que mesmo terminando de escrever esse texto continuo sem explicação "correta" para eles, de certa forma, "incorretamente", resumem-se em mudanças que todas as pessoas do mundo inteiro são obrigadas a passar. Eu acho. Passar por elas, e depois passar delas. Pra frente. Sempre em frente. Pois eu sou o destino, aquele que escolhi, intensamente. Exatamente nesse momento e esperando que seja para sempre.

7 comentários:

Anônimo disse...

É exatamente como eu penso: "E o que eu sou e o que eu levo comigo são as companhias que ficaram, de graça. Ontem, hoje e sempre."

Flávio H. disse...

Sou fã de Roberta. :)

Juliana disse...

Sou fã de Roberta. :)

Roberta Feitosa disse...

É exatamente isso. As fases passam e as coisas que ficam - as pessoas, os hábitos, os sentimentos - são aqueles pra sempre. O que não é pra sempre, fica estagnado - e esquecido.

Roberta Feitosa disse...

Flavinho e Juju, obrigada meus queridos. Também sou fã de vocês! ;*

Saionara Santos disse...

Será o blog que vou ler diariamente. Mt bom o texto!!!

ORD disse...

Enquanto tudo parece ficar sempre mais raso, mais banal e absurdo. Enquanto a arte que mais vende é aquela que menos precisamos pensar. Enquanto as vidas que são mais apreciadas são aquelas vividas aos transbordos de soberba, aos atropelos, sem que sejam percebidas as sutilezas de cada situação despropositada, aquelas que nos fazem acreditar em metafísica. Eis que surge ela, remando contra a corrente, iluminando e ensinando a ser gente.

Parabéns!