quinta-feira, abril 14, 2011

Apaixonem-se

Amo a palavra "apaixonar". Por definição, se apaixonar é se dedicar com ardor ou gosto a alguma coisa. É se encher de paixão, afeto. É bonito, é sincero, é sublime, grandioso, encantador.

Ao pensar sobre isso, não poderia deixar de citar uma experiência, como de costume. Lembro-me de uma pessoa querida que me disse certa vez que se eu o deixasse, pelas características não tão admiráveis dele, eu perderia pra sempre o seu lado bom também. Fatalmente, ele estava correto. E teimo em dizer o porquê, mais na frente. Confesso que às vezes fico na dúvida do que precisa (e deve) acontecer para esse sentimento ser despertado. Só tenho a certeza que, apaixonar-se é, irremediavelmente, intenso e emocional. Pelo que vejo, a porcentagem da razão anda em alta. Fato que me incomoda, muito.

É comum ouvirmos pessoas reclamando que alguém é ciumento, explosivo, desatencioso, tímido, anti-social, chato, alegre, depressivo, possessivo. Isso ou aquilo. Nessas horas eu costumo pensar: mas se não fosse isso, seria outra característica que incomodaria. E uma pergunta me consome: afinal, o que procuramos, de VERDADE?

Acho que a paixão, em si, é uma soma de emoções. Não consigo ver o lado bom e o lado ruim de outrem, na hora de me apaixonar. Citando, soberbamente, Nietzsche, começamos a amar alguém pelas emoções que o outro proporciona e não por aquilo que ele é, de fato. A verdade é que muitas pessoas podem ser, aparentemente, apaixonantes. Repito, aparentemente. Aqueles que não fumam, que apreciam bons livros, boas músicas. Que são educados, adoráveis, gentis. Que possuem bons hábitos, bons costumes. Isso atrai, fato. Mas paixão é, definitivamente, pele. É o sentir, seja de qual forma for.

Apaixonar-se é essencial. Tremor, suor, taquicardia, falta de ar, tudo de uma vez só. Apaixonar-se, pra mim, é ficar sem ar. Totalmente. É como sentir muitas coisas boas e não ter nem palavras para explicar. É se perder. É querer cuidar. É querer ser bom, em todos os sentidos, para alguém. É se doar, admirar, agradecer, aproveitar, sentir na pele, se arrepiar. É se calar, quando algo precisa ser dito. É falar, quando o silêncio incomodar. É ter liberdade de pedir, ceder, confiar. É ser você mesmo, modestamente, e aos poucos ir se transformando no outro, até chegar ao ponto de ser um só. É adaptação, é combinar-se convenientemente com o outro. É um dia não saber o que falar e no outro ter vontade de agarrar. É simplesmente adorar tudo no outro, admirar as coisas boas e rir das coisas ruins. É ajudar, evoluir, somar, sorrir. É sentir vergonha, sentir paz, sentir-se bem. Sentir-se, naquele determinado momento, completamente feliz.

Tem coisa melhor do que você ouvir que alguém se apaixonou por sua risada escandalosa (e não de um sorriso educado para cumprimentar alguém?); tem coisa melhor do que alguém se apaixonar pelas besteiras que você diz (e não de um assunto formal qualquer, que nem é interessante, no momento?); tem coisa melhor do que alguém ter se apaixonado pelo jeito ridículo que você dança (e não de sua postura forçada, em determinados lugares?); tem coisa mais bonita do que se apaixonar e se derreter por um olhar tímido, inseguro e envergonhado (e não por alguém que sabe sempre o que falar e que não demonstra insegurança nunca?); tem coisa melhor do que se apaixonar por uma frase despropositada, por uma voz, por um gesto qualquer, por uma mania? Como pode-se considerar defeito ser bobo, inseguro, tímido, explosivo, se pra acontecer tudo isso, é essencial ter certas características? Existe algo mais explosivo do que uma risada escandalosa? Existe algo mais bobo do que falar besteirinhas ou se encantar com coisas simples do dia a dia? Existe algo mais inseguro do que um olhar tímido?

Ele estava correto, sim. Somente por um motivo: associado ao "seu lado bom", foram-se todos os seus "defeitos", que mesmo não sendo tão "admiráveis", eram essenciais para poder sentir todas as emoções boas, em qualquer tipo de relação. Coisas que arrepiam! Eu agradeço, com muita leveza, por ser uma pessoa apaixonada! Apaixonem-se!

9 comentários:

Mônica Scala disse...

Texto, mais uma vez, excelente!!! :)

Mariana Paixão disse...

Adorei. Paixão é meu nome e minha essência. Não sei se pelo tema, mas um dos melhores textos da betinha. O que é de uma vida sem paixão? Ainda que não seja por alguém, mas por algo. Todo dia me apaixono um pouquinho por alguma novidade. Alguma "besterinha simples do dia a dia". Me lembrou de uma frase marcante do filme "O segredo de seus olhos" que diz: "(...) El tipo puede cambiar de todo: de cara, de casa, de famila, de novia, de religión, de Dios... pero hay una cosa que no puede cambiar, Benjamín... no puede cambiar... de pasión."

Roberta Feitosa disse...

Ainda não vi o filme, mas gosto muito dessa frase. Perfeita. Uma vida sem paixão, não é vida, fato. Viver é se apaixonar, sempre, por várias coisas, e pela mesma coisa, várias vezes!

;*

Duda China disse...

Adorei o texto.. Concordo com Paixão, um de seus melhores!

Fahad M. Aljarboua disse...

Já tinha lido, mas não tinha parado para comentar. Li de novo pela lembrança do twitter e resolvi comentar.

É um daqueles textos em que a leitura desliza, sobre um daqueles temas que nos faz flutuar. Por várias vezes enxerguei no texto uma música de um velho poeta do Rio Grande do Sul, música chamada "Concreto e Asfalto", a lembrança é mais específica ainda, remete a um certo verso "se eu fosse um cara diferente, sabe lá como eu seria".

Roberta Feitosa disse...

Se eu fosse uma pessoa diferente, eu seria tudo aquilo que não sou. Seria metade. Ou não.

kkkkkkkkkkk

Beijos, querido.

Vanessa Kelly disse...

Eu me apaixonei por esse texto! Parabéns, Fraudinha! Seu blog é dez! =***

Humberto Lucena disse...

Na verdade, a palavra paixão na acepção original faz remissão ao sofrimento. E agora? rs

Adriano Silveira disse...

Beta, que texto sensacional! Fala exatamente TUDO!