Intensidade

Os dias parecem estar passando, ultimamente, cada vez mais rápidos, breves e mornos. Dia após dia, o amanhã sendo a cópia mais fiel do hoje, que já foi igualzinho ao ontem. E eu venho sentindo uma mistura de preocupação com agonia que me tira o ar.

Sempre tive uma quedinha pela palavra intensidade. Na verdade, é um dos principais "defeitos" que alguém precisa ter pra chamar minha atenção. Falo defeito porque quando a intensidade está relacionada como característica de alguém, principalmente se for unilateral (quando esse alguém está associado a outrem), existe a grande possibilidade de acabar em tragédia (ou em terapia). Mas a minha grande "preocupação-agoniante" é: Será que as pessoas sabem usar a intensidade adequadamente?

Não faz muito tempo que alguém me perguntou: "O que poderia acontecer para você deixar de me amar?". Lembro que em, aproximadamente, 10 segundos pensei em várias coisas, várias atitudes que magoariam qualquer pessoa, mas rapidamente respondi sorrindo: "No dia que você mudar e não ser mais quem você é. Se você for sempre a mesma pessoa por quem eu me apaixonei, eu nunca vou deixar de te amar". E foi assim que aconteceu. Ele mudou e o amor acabou.

Fico pensando, quase que como uma obsessão, o motivo real das pessoas não conseguirem agir com intensidade e ao mesmo tempo manterem sua essência. E é por isso que, exclusivamente em mim, consigo enxergar toda a minha intensidade como um "defeito" que tenho apreço, por que não? Tenho visto repetidamente e exageradamente diversas situações onde a intensidade é distorcida. Para ser intenso você tem que ter, no mínimo, saltado de paraquedas. Ou então ter colocado uma mochila nas costas, acampado em um lugar qualquer, nadado nas Cataratas do Niagara e depois (ou antes) ter fumado um baseado em Amsterdam. E nesses intervalos ter beijado a maior quantidade de bocas possíveis, claro. Ser intenso é não conseguir ficar muito tempo em um emprego, porque para se ter intensidade nos dias, tem que estar em constante transição. Ser intenso, na visão de muitos, acaba sendo a perda da sua essência. E que perda, hein? Isso tudo resume-se em uma preferência por buscar sempre coisas novas, em vez de colocar mais vida em seus dias. Isso realmente me assusta!

Se as pessoas conseguissem se livrar de seus preconceitos, aí sim, iria ocorrer uma explosão de intensidade. Intensidade que contagia. Intensidade de fazer o que quer, de gargalhar alto, de dizer o que está com vontade, de amar loucamente os outros, de dar as idéias mais inovadoras no trabalho e rir de tudo isso. Intensidade espontânea. De fazer o que te faz bem, que faz bem aos outros e que principalmente te deixa mais livre de você mesmo. Intensidade, espontaneidade, calor humano, brincadeiras, abraços, horas e horas sendo você mesmo, conhecendo pessoas mas mantendo seus amores, seus amigos, seus vícios, seus livros. Intensidade de poder ir o mais longe que alguém já foi, mas continuar sendo o mais perto possível do que você é. Mudar o emprego, mudar os projetos, sem mudar o afeto. Amar seu parceiro, ir e voltar, sentindo o mesmo desejo. Renovar os desejos, sem mudar o seu par. Se acabar em um erro, perceber esse erro e poder recomeçar. Amar cheiros, beber lugares. Agarrar oportunidades, mas com a mesma vontade de pra casa voltar. Sem magoar.

Acredito que pra muitos que distorcem o real sentido (pelo menos pra mim) da intensidade, viver mudando sua essência pode até ser divertido. Mas preparem-se que o vazio do retorno pode ser assustador. Porque, em algum momento, todo mundo vai parar. E tudo aquilo e aqueles que vocês deixaram pra trás provavelmente já foram viver a intensidade verdadeira e simples em algum lugar, mas bem perto do que eles sempre costumaram ser. Viajaram, amaram, mudaram, conheceram, fizeram tudo isso como vocês fizeram também... Só que mais felizes por, no final, não terem tido em nenhum momento uma vida morna, sempre oscilando do mais frio possível ao mais quente, por que souberam manter sua real essência. Intensidade talvez seja isso!