domingo, setembro 25, 2011

Você é o que você sente

Eu queria conseguir entender o que está acontecendo. Qual é? Com as pessoas, com o mundo, de uma forma abrangente. Muitas vezes me pergunto isso e a única resposta que vem em minha mente é o silêncio. Um silêncio tão intenso que me ensurdece. Algo como um estrondo, que logo em seguida se transforma em um eco. Um eco que insiste, que repete, que é redundante. Que grita.

Eu queria conseguir viver a vida sem me preocupar com isso. Sem me preocupar com as pessoas, com a falta de amor e de respeito. Talvez isso seja meu pior defeito. Mas a cada acontecimento, a cada situação nova e a cada observação dos comportamentos alheios, desespero-me. Não que eu tenha esse direito, nem muito menos me considero um exemplo a ser seguido, não mesmo. Aliás, certifico-me que estou longe disso. Mas uma coisa que teimo em defender, até o último dia de minha vida, é o apreço pelos meus sentimentos. Inclusive, posso garantir que meus piores erros foram devido a isso. Seguir sempre o que eu sinto, por quem eu sinto, como eu sinto, até o fim.

Eu queria conseguir acreditar que os erros das pessoas estão diretamente relacionados ao que elas sentem, de verdade. Teria uma certa explicação ou pelo menos o impulso da emoção, em determinado momento, justificaria algumas atitudes. Seria emocionalmente coerente, mesmo não sendo atitudes tão admiráveis. Mas o que consigo enxergar, hoje, são pessoas egoístas que não respeitam nada nem ninguém, que são totalmente insensíveis ao sentimento alheio. Pessoas frias. Pessoas que acreditam que, por si só, bastam-se.

Eu queria conseguir ser uma dessas pessoas. Mas acredito que a única forma de agir com coerência, mesmo que resultasse em uma vidinha morna e sem paixão, seria vestir esse personagem e viver a vida com atitudes solitárias, vivendo pra lá e pra cá, conhecendo várias pessoas, vários lugares, passando por várias experiências, mas sem manter nenhum vínculo, nenhuma relação intensa-passageira. Assim teria minha consciência tranquila de que não despertaria uma esperança em alguém. Uma pessoa que passou a vida toda procurando alguém como eu aparentava ser. Evitaria o sofrimento alheio de terem que me esquecer. Já que eu, supostamente, me conheço e sei que minha prioridade não é um relacionamento, e sim coisas superficiais - repito, mornas.

Mas alguns preferem pagar para ver. A maioria dessas pessoas querem desbravar o mundo, mas nem sequer se conhecem. Querem ter tudo, mas não se tem a si mesmo. Acham que sabem o que querem da vida, mas não sabem nem o que querem no momento! Passam o dia todo pensando em problemas do trabalho, mas não perdem uma noite de sono fazendo amor. Vivem em busca de prazeres que irão surpreender seus olhos, mas não chegam nem perto de surpreender sua alma.  É triste ver que quem é "bom" é visto como otário. Quem é "ruim" é valorizado e se dá bem. Se você se dedica muito você tá perdendo tempo, se você não valoriza o que tem e busca outras coisas você é visto como esperto. Que valores são esses?

Eu queria conseguir acreditar que a maioria das pessoas poderiam responder, quando qualquer um perguntasse sobre "o que te faz feliz", que o equilíbrio de tudo é o primeiro passo para a liberdade. Equilíbrio de terem uma vida extremamente contagiante afetivamente, socialmente, psicologicamente, profissionalmente, e mais vários outros "mentes". Uma vida compatível, digna. Ser livre dos seus medos, dos seus erros. Só quem se conhece quase que perfeitamente entende o eco da vida. O que você faz dos seus sentimentos hoje, será o que você vai receber do futuro. A vida é construída passo a passo e mesmo sabendo que "estamos atrasados, a gente espera que ainda tenha tempo" - quando? Já dizia Nando Reis, que o mundo está ao contrário e ninguém reparou.

Quando eu começar a ver as pessoas colocando sentimentos verdadeiros em seus dias, e não vivendo nessa de quererem sempre mais (ou menos), eu vou começar a tentar entender o que realmente está acontecendo.

3 comentários:

Lara Medeiros disse...

Bom saber que eu não sou a única que tem esse sentimento.
Parabens Beta, muito bom o que voce escreveu.

Rafael Caus disse...

Acho que a chave é o que você falou no segundo parágrafo. Tem apreço pelos seus sentimentos. Sendo assim, os valoriza, os ouve. E eles gritam. Bom, pelo menos os meus gritam(risos). Não sei se é uma paranoia na tentativa de defenderem o que parecem ser, mais do que o que são, que faz algumas pessoas agirem na contra mão da afetividade, seja própria ou do outro. Conheço muitas pessoas desonestas com elas mesmas. E vivem bem, aparentemente. Não sei como conseguem. Assim como você, não posso e não quero ser o bastião da retidão ou da moralidade(até porque a última vez que ouvi essa expressão foi pro tal Demóstenes Torres e a gente viu no que deu), mas eu também me perco na busca por uma explicação. Cinismo, individualismo, consumismo e outros ismos(pra copiar seus "mentes") não explicam. Só embrulham. O estômago, mais do que tudo.
Parabéns de novo pelos textos.

Roberta Feitosa disse...

Repetidamente, essa busca por explicação me deixa louca. Acho que decidi não me importar mais. Penso como você: vejo pessoas com valores totalmente invertidos e me assusto. De certa forma, a nossa prioridade, no mundo de hoje, é o lado profissional. Ninguém quer mais saber quem você é e o que você sente, e sim o que você faz. Esses são os futuros pais de psicopatas, que transformam o mundo em um lugar cada vez mais frio, carente de afetividade e desonesto. Pois quem mais tem, é quem sempre quer ter mais. O egoísmo wins.

Obrigada pelo comentário. Beijos.