sábado, janeiro 05, 2013

Palavras, apenas palavras?

Eu gosto de Palavras. Gosto mesmo. Como elas são escritas, como se formam, como soam. Como são ouvidas visualmente e como são vistas sonoramente. Seus cheiros, seus sabores, suas rimas. Mas eu gosto, principalmente, dos seus significados. Não falo tão somente da semântica, e sim das suas subjetividades e individualidades. Afinal, cada cabeça é um mundo, e cada mundo é uma história. E cada história, um julgamento.

Pensei em quantas vezes já me expressei mal. Perdi as contas. Mas o que me incomoda realmente é a falta de cuidado em proferir palavras que soam adequadas com a situação, sentimento, pensamento. Falta de noção, eu diria. E indo um pouco mais além, falta de boas intenções. O que realmente queremos dizer quando metralhamos certas palavras? Como tudo está voltado para si (explica aí, Nietzsche), não é difícil responder isso: sempre vai existir uma porcentagem voltada para nossa satisfação egoísta. Mas qual o limite de responsabilidade que devemos ter com as palavras que proferimos aos outros?

É óbvio que excluo dessa lista os semi esquizofrênicos ou algo do tipo, que interpretam qualquer frase de qualquer jeito. Não falo de distorções e pirações. Falo de obviedades claras. Bem claras, explicadas, dignas. Sinceras. Pausa para as indignações, pois é exatamente nesse momento que surgem as frases prontas cheias de aspas dizendo que somos responsáveis apenas pelo o que falamos e não pelo o que o outro entende. Resposta errada.

Vejamos: concordo que, muitas vezes, os outros só entendem o que querem, mas existe um limite para isso. Deve existir, senão o mundo já teria acabado em tapas, puxões de cabelos, tiros e pontapés. Mas faltam boas intenções. Ah, isso falta. Um significado subjetivo de uma frase jogada aparentemente sem propósito pode alterar rumos, apreços, vontades, escolhas e, especialmente, julgamentos. Já pensou? Basta um "Esse cara é gente boa, mas você sabia que (...)?"; ou "Chefe, fulano realizou um serviço medíocre, posso refazer?  Mas não comente com ele, pois ele está com problemas pessoais sérios"; ou apenas um "Vou te contar uma coisa sobre tal pessoa, mas você não pode comentar que eu te falei isso, morre aqui, tá?" e pronto. Acabou-se a admiração, a vontade, os planos. Um passa por cima do outro de maneira implícita e maldosa. Se não for tão dramática a situação, pelo menos um pé atrás vai surgir. E essa mínima desconfiança ou dúvida sempre vai te atormentar. E as pessoas mal-intencionadas e faladoras: WINS.

Palavras são afirmações e declarações que não são apagadas. O peso de cada asseveração já foi eternizado no momento que foi exposto. Aconteça o que acontecer, elas estão sempre soltas. E as consequências dessas palavras não comedidas podem ser desastrosas. Mas acredite que, um dia, faladores, elas podem se voltar inteiramente contra você. E aí, meu caro, não vai ter ninguém para aplaudir de pé seu egoísmo em cuspir palavras inadequadas. Nem Nietzsche, nem, sobretudo, Deus.

5 comentários:

Rafael Caus disse...

Talvez eu seja um pouco redundante ao tentar juntar alguns dos seus posts. Mas é que eles juntos me dão uma ideia da algumas vezes desesperadora complexidade da convivência. A gente é o que sente, mas a gente não pode sempre dizer o que sente, porque as palavras podem fazer estragos, mas ao mesmo tempo temos que manter distância de pessoas. Se somos água, fiquemos longe do óleo, querendo liberdade mas sem ter a liberdade espontânea de dizer, de usar as palavras. E essas pessoas que devemos manter distância são as que manipulam em alguns casos de forma muito competente o que falam, como falam. Esbarram no egoísmo, no egocentrismo, na necessidade de influenciar, de exercer controle, inclusive, com as palavras. Novamente concordo com você que um entusiasmo de fazer inveja à Pollyana é uma maneira de manter saudável a relação construtiva com o outro e a realidade. Seja através de palavras, seja através do sentimento. Mas enquanto isso a bondade vai perdendo espaço na prateleira para a customização em massa, vazia e perfeitamente projetada para frustrar e mesmo assim seduzir cada um que faz uso dela. Mas acho que não sei ser conclusivo... rs.
Valeu pelo post.

Tiago Morais Costa disse...

Citando Belchior: "...Sons, palavras, são navalhas...e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém..."
covardia, sarcasmo e um pouco de sadismo para tornar pessoas "menos-que-medíocres" um pouco mais realizadas.
independente da vontade de causar danos, a consiência e propriedade sobre aquilo que se fala, devem pesar para traçar o real sentido do falar. Mas o falar é fugaz, dar o exemplo é sempre mais marcante e proveitoso...nossos filhos têm que perceber isso.
Eddie Vedder também faz uma pequena inserção disso em "Nothingman".
Leitura muito interessante, parabéns!

Roberta Feitosa disse...

Rafael, resumindo é isso mesmo: somos o que sentimos, mas temos que ter cuidado com o que dizemos. Acho que com sinceridade dá pra dizer tudo. O que não vale é manipular, mesmo sendo uma atitude comum das pessoas. Aliás, se a gente começar a ver como algo que não é comum, já é um grande passo para a "bondade".

Roberta Feitosa disse...

Tiago, obrigada pela visita. É isso mesmo: falar com propriedade, autoridade e, sobretudo, saber o que está falando, é um grande passo pra diminuir o falar só por falar, ou seja, o (des)necessário. Boa indicação da música de Eddie Vedder. :)

Anônimo disse...
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