terça-feira, maio 08, 2007

Luiz Fernando Verissimo


- Existe alguma técnica para quem deseja escrever com ironia?


Luis Fernando Verissimo: É curioso. Os brasileiros estão acostumados com a ironia, nada mais comum do que duas pessoas que se amam se agredirem ironicamente, ou as pessoas dizerem o contrario do que realmente pensam, mas coloque- se isso num texto e o comum é as pessoas não entenderem. Esta é a maior ironia de todas. Se há uma técnica para escrever com ironia? Não, é só ser irônico, brasileiramente.

(...)

Nunca tinha entendido por que as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. E nunca tinha entendido por que os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração.Uma noite, semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. Bom, começamos a ficar à vontade, fazer carinhos, já estava bastante excitado e nesse momento, ela fala: "Acho que agora não quero, só quero que você me abrace. Me abrace, mas me abrace forte " Eu falei: "O QUEEEEEE??" Ela falou: "Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher".

Comecei a pensar onde podia ter falhado. No final, assumi que naquela noite, não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte fomos a um grande hipermercado, do tipo Carrefour, com muitas lojas dentro dele. Dei uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos. Como não podia decidir por um ou outro, falei para comprar os três. Então ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem, a R$ 200,00 cada par. Respondi que tudo bem. Depois fomos à seção de joalheria, de onde saiu com uns brincos de diamantes. Estava tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco, agora penso que estava me testando quando pediu também uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga.

Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso; Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz!Quando ela falou: "Vamos passar no caixa para pagar" tive dificuldade para me segurar ao falar com ela: "Não, meu bem, acho que agora não quero comprar tudo isso". Ela ficou pálida. Ainda falei: "Só quero que você me abrace. Me abrace, mas me abrace forte". No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei: "Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras como homem..."

Acredito que o sexo acabou para mim até o natal de 2010.

Luiz Fernando Verissimo

Um comentário:

Phantros disse...

Texto formidável!